quinta-feira, 1 de julho de 2010

Negociações semióticas: mediação, intervenção, transmutação



As negociações semióticas com as tecnologias compreendem: a mediação poetamáquina, por meio de signos e códigos; a mediação dos signos e dos códigos verbais e não verbais; a intervenção do poeta na tecnologia computacional para uma finalidade poética; e a transmutação intersistemas (poético e tecnológico), que se produz pelas interfaces. Isso resulta na tecnopoesia.
A mediação poeta-máquina gera trocas e partilhas semióticas em duas fases: na primeira, a assimilação de neologismos e conceitos tecnológicos, para poder aplicálos como temas e expressões poéticos, ou seja, produção de signos, pois o poeta, ao tomar conhecimento do conceito cultural de determinada máquina, realiza a semiose (signo, objeto, interpretante, na conceituação peirceana), ou seja, o signo da máquina passa a ter significação em sua arte verbal. Numa segunda fase, o poeta, não necessariamente o mesmo, nem precisamente num tempo imediatamente posterior, assimila a linguagem da máquina e intervém nela, com a interface de que dispõe e por meio da criatividade de que dispõe, transmuta a função predominante da máquina - pragmática, referencial, objetiva – em poética – plurissignificativa, interagente. 
A mediação dos signos e códigos verbais e não verbais possibilita a existência de uma linguagem poética, essencialmente verbal, não mais apenas potencializadora, indicial e icônica das linguagens não verbais, mas agora uma linguagem híbrida ou interagente.
Assim, a palavra, essência da poesia, negocia com a imagem e os grafismos da letra e da palavra manuscrita ou manipulada graficamente e interfere neles para a produção da poesia visual; com o som, para produzir efeitos sonoros (poesia sonora); com a animação, para produzir movimentos de palavras, letras e imagens (poesia animada); com o espaço físico, para a poesia tridimensional. A poesia interfere na simulação realizada pela tecnologia computacional e chega à tecnopoesia, que passa a ter existência no espaço simbólico do computador, individualmente, ou dos computadores em rede.
A tecnologia é um conjunto de conhecimentos científicos que se aplicam a um determinado ramo de atividade e compreendem os saberes (matemática, ciência, biologia, geometria, teoria da informação, informática, computação, programação, arte, literatura, etc.), as máquinas que foram criadas para as mais diferentes finalidades pragmáticas (indústria, comércio, residência, cidade), os meios de comunicação de massa, os métodos científicos em si mesmos, ou quando utilizados, por exemplo, para as ciências sociais, e assim por diante.
A tecnologia computacional compreende procedimentos científicos que envolvem o uso do computador como máquina individual de processamentos diversos (programas, CPU, teclado, mouse, monitor, impressora, escâner, microfones, caixas de sons, canetas, discos rígidos, discos flexíveis) e como máquina de comunicação (Internet e rede). Essa máquina, com circuitos eletrônicos de hardware e, também, com linguagens formais (software, programas, algoritmos), tem uma parte que é programada de fábrica e uma outra que se deixa programar de maneiras diferentes, o que a faz ser usada como ferramenta e/ou como linguagem. Na grande maioria das vezes, é nesse material programável que o poeta interfere de diferentes maneiras e esses procedimentos são o que denominamos de negociações semióticas para a produção da tecnopoesia.

(ANTONIO, J. L. Poesia eletrônica: negociações com os processos digitais. Disponível em: www.arteonline.arq.br/museu/library.../PoesiaEletronicaApresentacao.pdf)

Nenhum comentário:

Postar um comentário