sexta-feira, 16 de julho de 2010
Outros Azuis, por Sigrid Renaux
Outros Azuis
reter
nas retinas da memória
a trilha do sol sobre as folhas de outono
no fundo de um jardim
galhos entrecortados
asas e luzes entreabertas
as magnólias aguardam o instante
de partir
dedos ensolarados
os bambus roçam o meio-dia das flores
enfeitiçando-as com sóis e sombras
espirais infindas
les sons et les parfums tournent dans l’air du soir
entrelaçando-o com seu azul
varredores de rua
folhas vivas
seus olhos percorrem o chão
juntando os sonhos mortos
das árvores
perfeita
desapegada
e branca
a carcaça de um boi repousa na relva
à beira da estrada
imersas nos campos da madrugada
as árvores amorfas anseiam
pela lança luminosa do sol
ubi sunt?
vagando no espelho
seus olhos procuram em vão
vestígios de uma paisagem
perdida
tímida
frágil
inconstante
delineia-se a lagartixa
sobre uma parede branca
na rua azul dos agapantos os carros passam apressados
parando apenas
na luz vermelha
vibrantes ao vento
os frutos da paineira aguardam
sua eclosão no azul
balança abandonada
trepa-trepa enferrujado
a grama cresce em volta
de lembranças
alegres
ligeiros
os lixeiros cruzam as ruas
levando o lixo
que não é lixo
em seus caminhões
tão verdes
atravessando o azul
só os pássaros sabem
do esforço imenso de suas asas
para voar
Sigrid Renaux
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