O romance histórico biográfico Boca do Inferno (1989), de Ana Miranda, apresenta uma interpretação sobre a obra de Gregório de Matos e Guerra e sobre os diversos relatos biográficos, de caráter histórico, publicados. A autora faz circundar, no enredo, fatos comprometidos com a história abordados através do discurso ficcional que possibilita o detalhamento narrativo, nem sempre encontrados no discurso histórico. Ou seja, os fatos que podem ser comprovados por documentos históricos vêm no romance repletos de pormenores que fazem dos episódios históricos cenas passíveis de visualização pelo leitor.
Há no romance, por exemplo, representações de personagens históricos como o Padre Vieira e o então governador da Bahia, Antônio de Souza Menezes, além de referências a intelectuais da época como Rocha Pita, Bento Teixeira e Ambrosio Fernandes Brandão que ajudam a compor o cenário histórico; e há também personagens que, como figurações do ser, são invenções da autora. Estes surgem a partir da pesquisa sobre a realidade contemporânea ao tempo da narrativa (século XVII). Por outro lado, há o relato de um crime, previsto por biografias não literárias – como, por exemplo, A vida espantosa de Gregório de Matos (1983), de Pedro Calmon – apresentado desde o seu planejamento até sua efetivação. O detalhamento ficcional do episódio revela exatamente por quem, quando, onde e como foi cometido o crime, diferenciando, pelo visualismo da cena narrada, o texto romanesco do histórico. É também nesta relação entre o ficcional e o histórico que se descobrem as possíveis leituras e o posicionamento da autora em relação à interpretação histórica da vida do poeta em diferentes épocas.
Deste modo, a focalização deste trabalho é a construção da personagem Gregório de Matos no romance Boca do Inferno, considerando as relações entre a autora, enquanto pesquisadora da vida e da obra do poeta, e o herói biografado ficcionalmente. Neste romance, a autora não coincide e nem se aparenta com o herói, mas o reconstitui e configura, baseando-se em pesquisa aprofundada sobre documentos acumulados desde o século XVIII, quando foi escrita a primeira biografia do poeta. A autora revela a atenção dada também às biografias mais recentes e a textos que esclarecem cientificamente a ambientação histórica e social do país, principalmente na região da Bahia. (...)
Querida mestra, está muito bom! Vai caracterizar o romance como metaficcõa historiográfica?
ResponderExcluirBem, o texto não chega a dizer isso diretamente, porque não é este o objetivo. As análises giram em torno da caracterização do biográfico feita por Bakhtin e a construção biográfica realizada por Ana Miranda, neste romance. Tento mostrar como a autora desconstrói a obra poética de Gregório para retirar o ser existente nela e ao mesmo tempo se apropria de textos históricos e biográficos. Isso é metaficção historiográfica?
ResponderExcluirGrata pelo comentário!
Eunice M.
Puxa! Fiquei maravilhada em saber que existe um site onde podemos ler sobre Teoria Literária, achei o máximo! Agora que descobri como fazer parte deste blog, serei mais presente. Obrigada professora Eunice! Beijinhos
ResponderExcluirObrigada, Rosana. Esperamos novos comentários e até mesmo contribuições para o Blog. Fique à vontade, sua participação é muito importante!
ResponderExcluirUm abraço! Prof.ª Eunice.
Estou lendo bastante sobre Ana Miranda e o poeta histórico Gregório de Matos, e estou facinado por minha pesquisa, pois percebo que Ana Miranda era uma pessoa muito simples que buscou trazer Gregório de Matos de uma maneira histórica simples para todos nós. Parabéns à Doutora Eunice pelo trabalho de pesquisa que realiza é maravilhoso.
ResponderExcluirJosé Roque Pereira de Melo
Obrigada, José!! Espero que continue sua pesquisa e que venha a se encantar ainda mais com outros romances da autora.
ResponderExcluirabraço
Eunice M.