Por Verônica Daniel Kobs
Ø Os anos 60 e 70 estabeleceram o conceito de gênero como diferença sexual.
Ø As conseqüências: espaços sociais “gendrados”, estereótipos e reducionismo.
Ø A mulher como o elemento oposto ao homem (= ponto de referência/base).
Ø As conseqüências: a sociedade patriarcal conduzindo o pensamento feminista, a mulher sendo concebida como elemento genérico (mulher=mulheres) e o sujeito definido sobretudo a partir do sexo, o que desconsidera os substratos de classe, língua, raça, etc., que também compõem o indivíduo.
Ø Tese defendida pela autora: os discursos (institucionais, artísticos (como cinema e literatura), entre outros), em sua totalidade, contribuem para perpetuar as diferenças estereotipadas impostas para diferenciar masculino e feminino.
Ø Sub-teses:
1) “Gênero é uma representação” e se concretiza no comportamento das pessoas.
2) “A representação do gênero é a sua construção” e evolui à medida que a sociedade também evolui.
3) A construção do gênero é ininterrupta.
4) “(...) a construção do gênero também se faz por meio de sua desconstrução”.
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Ø Os significados de “gênero” nos dicionários: “classificação do sexo; sexo” e “representação de uma relação, a relação de pertencer a uma classe, um grupo, uma categoria”.
Ø Uso dos possessivos “its”, “his” e “her” para o substantivo “criança”: “Embora a criança tenha um sexo ‘natural’, é só quando ela se torna (...) menino ou menina que adquire um gênero. (...) então, (...) gênero não é sexo, uma condição natural, e sim a representação de cada indivíduo em termos de uma relação social preexistente ao próprio indivíduo e predicada sobre a posição ‘conceitual’ e rígida (estrutural) dos dois sexos biológicos.” (LAURETIS, p. 211).
Ø O sistema de sexo-gênero e as atribuições de valor, prestígio, status dentro da hierarquia social, etc.
Ø A construção de gênero como produto, mas também como processo.
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Ø Gênero e ideologia: da representação à construção de homens e mulheres reais (Althusser x teorias feministas e marxistas).
Ø A categorização masculino/feminino, excludente, manipula as relações sociais, que não refletem, mas constroem a realidade. “Os homens e as mulheres não só se posicionam diferentemente nessas relações, mas — e esse é um ponto importante — as mulheres são diferentemente afetadas nos diferentes conjuntos.” (LAURETIS, p. 215).
Ø O conceito “sujeito do feminismo”: tentativa de diferenciar esse “sujeito” dos conceitos de “Mulher” (o estereótipo) e “mulheres” (sujeitos reais, mas “engendrados”).
Ø Feminismo, ideologia e hegemonia: Teresa de Lauretis destaca as publicações de This bridge called my back (1981) e All the women are white, all the blacks are men, but some of us are brave (1982), que marcaram a relação entre feminismo e ideologia e que, conseguindo espaço em meio aos estudos feministas escritos por brancos, abalaram o discurso hegemônico, redefinindo-o, ao menos em parte.
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Ø A “interpelação”, termo cunhado por Althusser, e o desvendamento da representação como algo criado e incorporado pelos indivíduos. “Agora pergunto, isto não é o mesmo que dizer que a letra F assinalada no formulário grudou em nós como um vestido de seda molhado? Ou que, embora pensássemos estar marcando o F, na verdade era o F que estava se marcando em nós?” (LAURETIS, p. 220).
Ø A importância da História da sexualidade, de Michel Foucault, para o estudo A tecnologia do gênero, e as críticas dirigidas à obra pela autora (Foucault faz uma obra androcêntrica, porque nega o gênero, o que resulta na anulação das relações desiguais e opressoras entre masculino e feminino e, por fim, contribui para a continuidade do predomínio do masculino sobre o feminino).
Ø A tecnologia do gênero e a sexualização do corpo feminino.
Ø A teoria de Teresa de Lauretis retomada por Susana Funck: “As mulheres sempre tiveram uma relação complicada com a sexualidade. Territórios colonizados pelo desejo do masculino hegemônico, seus corpos são historicamente associados ao mistério e ao perigo do desconhecido, à ausência, ao vazio e à incompletude. Ao mesmo tempo, e paradoxalmente, a própria idéia de feminilidade parece vir sempre atrelada a um corpo físico e palpável. Basta lembrar o conceito de imanência de Simone de Beauvoir e, mais recentemente, o da tecnologia do gênero, de Teresa de Lauretis, (...).” (FUNCK, p. 1).
Ø Também Susan Bordo entende a normatização do corpo feminino como modo de controle social e manutenção das hierarquias de gênero.
Ø A representação do feminino a serviço do masculino: “Alienada de seu desejo e sem o controle de seu corpo, a mulher aparece como objeto erótico do prazer masculino, perpetuada e aprisionada em papéis dicotômicos de amante submissa ou de perigosa devoradora de homens.” (FUNCK, p. 1) / “(...) mesmo quando localizada no corpo da mulher (...), a sexualidade é percebida como um atributo ou uma propriedade do masculino.” (LAURETIS, p. 222).
Ø Wendy Hollway, como demonstra Lauretis, exacerba o cruzamento do gênero com outros fatores determinantes para o perfil de sujeito, ao investigar como classe social, raça, idade, etc. influenciam os diferentes posicionamentos das mulheres em relação ao gênero.
Ø Segundo Lauretis, só acontecerá um avanço nos estudos de gênero, quando for possível o afastamento da base androcêntrica, a partir da revisão do sujeito diante das representações de gênero. Isso implica, porém, que os discursos que hoje andam à margem tentem minar o discurso hegemônico. A tarefa é difícil, já que as mulheres “já assumiram a posição em questão (a da parte feminina do casal) exatamente porque tal posição já lhes garante, como mulheres, um certo poder relativo”. (LAURETIS, p. 226).
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Ø O masculino como “antagonista” da ficção feminina, como leitor e como crítico.
Ø Gênero e diferença discursiva: Culler, com base em Showalter, posiciona-se diante dos discursos lidos e produzidos por mulheres, segundo Lauretis, reconhecendo que “‘ler como mulher’ não está, em última análise, vinculado ao gênero do leitor real: repetidamente Culler fala da necessidade de o crítico adotar o que Showalter denominou a ‘hipótese’ de uma leitora mulher em vez de invocar a experiência de leitores reais.” (LAURETIS, p. 234).
Ø Porém, para Tânia Modleski, Culler mostra-se patriarcal, já que, para ela, a crítica feminista deve promover uma “leitora feminina real” e não a “hipótese”. Rosi Braidotti compartilha dessa opinião, ao constatar que também Deleuze, Foucault, Lyotard e Derrida não associam a feminilidade a mulheres reais.
Ø O “pós-feminismo” e a desconstrução do sujeito (mas “des-reconstrução” para quem?).
Ø Hoje, a luta é entre discursos (o hegemônico e os das “minorias”) e a finalidade não é a dialética, mas a contradição, a multiplicidade e a heteronomia, para que o discurso monopolizador possa, aos poucos, ser modificado.
Ø Em Feminismo em tempos pós-modernos, há referência à teoria de Donna Harraway, relacionada à de Lauretis. Donna Harraway centra seu estudo na figura do “ciborg (um ser-artefato que funde e confunde as categorias organismo e máquina), (...). Não sendo criado a partir de nenhuma unidade original e sem apresentar qualquer identificação com a natureza no sentido ocidental, o ciborg é, segundo Harraway, a criatura do mundo pós-gênero: (...). Um artefato emblemático e exemplar da experiência pós-moderna com sua profusão de espaços e identidades permanentemente parciais, com sua permeabilidade de fronteiras no corpo pessoal e no corpo político. Esse tipo de experiência, certamente, não encontra correspondência nas taxonomias do feminismo tradicional.”
REFERÊNCIAS:
LAURETIS, T de. A tecnologia do gênero. In: HOLLANDA, H. B. de. Tendências e impasses. O feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.