Sigrid Renaux (25/11/2010)
Como comenta Victor Sales Pinheiro, na Apresentação do livro A Clave do Poético, de Benedito Nunes (São Paulo: Cia. Das Letras, 2009), “A Clave do poético reúne ensaios de vários momentos da extensa atividade intelectual de Benedito Nunes, autor de reconhecida importância em nosso cenário cultural, sobretudo pela originalidade e profundidade com que aproxima literatura e filosofia”. Por esta razão, escolhi reproduzir partes dos trechos conclusivos do ensaio “Crítica literária no Brasil, ontem e hoje” para estimular os mestrandos a ler este ensaio em sua íntegra e, também, os outros ensaios deste autor, considerado “um tesouro nacional, guardado na Amazônia há décadas”, como afirma Leyla Perrone-Moisés, no Prefácio à obra.
Nos referidos trechos, Nunes afirma que, mesmo que haja uma “aparência de recuperação, a crítica, sem mais representar um polo de tensão com a escrita dos escritores, está em crise profunda desde algum tempo nos seus princípios, na sua presença pública, na sua operatividade como leitura; há uns bons três decênios em declarada falência em sua função julgadora ou avaliativa, procurou compensar a queda (...) convertendo-se, entre os franceses,em escrita autônoma, objeto de “paixão amorosa”, do prazer barthesiano do texto. Mas, no Brasil de hoje, quando há mais leitores, mais livros, mais jornais, como falar em crise daquele ofício intelectual de julgar que acompanha a liteatura, se ela ainda é literatura?
Por que, então, crise? Somente da crítica ou também da literatura? Onde está o sintoma das causas e de seus efeitos? É no livro que podemos encontrá-los, responde Walnice N. Galvão (Desconversa, 1998):
no conformismo, na predileção pela escrita fácil, no abandono da experimentação formal, na redundância estética, na busca do impacto aprendida com o jornal e a televisão. A crítica literária definhou (enquanto o ensaio crítico em livro cresceu): os suplementos literários desapareceram em sua maioria: o press-release, que faz parte da máquina do mercado e não da esfera da literatura, transveste a informação sobre livros.
(...)
No entanto, os estudos críticos, fora do jornal, abundam; avolumam-se as investigações sociais, históricas e culturais do discurso literário (...): aumenta o surto ensaístico de trabalhos meio filosóficos, meio literocríticos (...). Talvez pudéssemos pensar que vivemos outro período cultural, o da pós-modernidadem, se o conceito de pós-modernidade não se enraizasse (...) no de modernidade.
Mas talvez seja mesmo a crise da crítica o efeito exterior de uma crise da própria literatura, combalida, intoxicada, inconfortada, maquilada dentro do vigente sistema de valores midiáticos da vida cultural brasileira globalizada. ‘Será’– pergunta Leyla [Perrone-Moysés] e eu com ela – ‘que, ao efetuarmos a liquidação sumária da estética, do cânone e da crítica literária, não jogamos fora, com a água do banho, uma criança que se chamava literatura? Teríamos então de rever, como admite a mesma Leyla, as desconstruções, que foram necessárias, rever o lugar mesquinho da literatura no ensino médio, rever as nossas atitudes em face dela, enfrentar a mentalidade que a rebaixou. Se a literatura cai, a crítica despenca.
No entanto, crise não é catástrofe. Crise é incerteza do que fazer agora e do que virá depois.” (NUNES, 2009, p.65-6).
Boa leitura a todos vocês!
É relevante que essa crise seja discutida para sabermos qual o papel que a crítica e a literatura assumem no mundo contemporâneo, até porque crise é uma manifestação de desequilíbrio.
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